Como já dizia a música da banda Titãs, famosa na vertente rock dos anos 80 e 90 em nosso país, a arte como sentido de diversão, é o intuito de uma nação que deseja minimamente manter traços culturais e formar cidadãos cientes da sua história.

Muitas das dúvidas, em relação ao estudo de Educação Artística na escola, se dão por meio de uma sociedade que não aprendeu muito bem a valorizar Arte e Cultura como ganho humano. E é nessa proposta que este texto vem nos orientar.

Arte pra quê e Arte pra quem? De acordo com o Estatuto da criança e do adolescente no Art.58 : “ No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes culturais.” Em tese estamos não só falando de produzir e saber

 

reconhecer, mas principalmente de ter acesso.

 

Quando nos deparamos em um contexto social onde crianças e adolescentes estão expostas à estímulos de telas,  acesso a informação de forma ilimitada, uso excessivo da internet e paralelo a isso, os gigantes da tecnologia, donos dos meios de produção no Vale do Silício, excluindo seus filhos deste contexto, temos um paradoxo. É possível compreender que chegamos a um estágio onde as ferramentas orgânicas, os métodos naturais e a nossa forma de expressão foram superadas por um simples celular?

Dados de 2023 colocam o Brasil como o quinto país em número de usuários de smartphones em todo o mundo. O percentual de uso entre crianças e adolescentes que era grave já em 2021, subiu para 54,8%. Essa é uma informação que nos diz muito. O celular substituiu a diversão e o acesso a Arte e Cultura. Como competir com plataformas que incentivam o tempo todo o consumo? O tempo foi substituído. De acordo com a Common Sense Media, as crianças e adolescentes preferem aplicativos de vídeos curtos e rápidos. O jovem usa o celular em média 4 horas do dia. De forma muito prática, o ser humano que tem 8 horas de sono por dia, 5 horas no espaço escolar, 4 horas de telefone celular, tem em média 17 horas do seu dia ocupado. As outras 7 horas restantes são distribuídas em deslocamento, alimentação, tarefas de casa e o brincar. Este último não está incluso em horas gastas no celular. É justamente nesse lugar que precisamos nos perguntar. Escolhemos hoje não ter acesso a Arte? A resposta é sim. A escola não pode e nem deve ser o único veículo a fomentar o prazer em descobrir e produzir. O círculo familiar e como este se comporta na divisão de seu tempo são essenciais para que a criança e adolescente se desenvolvam.

Mas diante de tantas informações de que realmente serve a Arte? Se nos colocarmos diante da vida e conseguirmos enumerar o tanto de Arte nos cerca, talvez a gente perceba que respiramos através dela. A dança, o teatro, música, cinema, fotografia, decoração, arquitetura, moda… São apenas alguns exemplos de linguagens que nos cercam e que nos influenciam ao longo da vida.

Voltamos ao debate sobre “Os Gigantes da Tecnologia”. A pedagogia Waldorf incentiva e encoraja a criatividade, nutre a imaginação e conduz os alunos a um pensamento livre e autônomo. É esse método de estudos empregado no Vale do Silício, o epicentro da economia digital. Escolas sem tablets nem computadores e jardins da infância onde o celular é proibido por contrato. Os filhos dos “Gigantes” não usam celular!

Enquanto todas as escolas se esforçam pra introduzir o método digital em suas metodologias, os criadores dela vão na contramão. Seus filhos são inundados de estímulos artísticos e culturais, responsáveis pelo desenvolvimento humano. Filhos de Mark Zukerberg, donos do Instagram e Facebook, os gurus da Apple, têm seus filhos estudando neste método. Estariam eles de acordo com a inserção de tecnologias substituindo a vida analógica?

As representações artísticas nos orientam no estudo das civilizações, no comportamento social, na compreensão da história dos povos e dos períodos. É sociedade, cultura, economia e política sendo estudadas através do contexto da Arte. Somos situados no espaço e no tempo. A arte encontra a Ciência, a matemática, as crenças… Seja da Pré-História, onde temos a primeira forma humana de se expressar com a Arte Rupestre, passando à Idade Média, Renascimento Cultural com grande influência do Cristianismo, às Revoluções Industrial , Francesa, Russa em contextos Modernos, chegando às Guerras e à Contemporaneidade. A Arte veio falar sobre o seu tempo. Ela esteve em todos eles desde que a humanidade surgiu. É estímulo vivo. É interdisciplinar!

Em entrevista ao jornal El País, Pierre Laurent, pai de três filhos, engenheiro de computação que trabalhou na Microsoft e em várias outras startups, nos elucida: “Não acreditamos na caixa preta, na ideia de que você coloca algo em uma máquina e sai um resultado sem que se compreenda o que acontece lá dentro. Se você faz um círculo perfeito com um computador, deixa de ter o ser humano tentando alcançar essa perfeição. O que desencadeia o aprendizado é a emoção, e são os seres humanos que produzem essa emoção, não as máquinas. Criatividade é algo essencialmente humano. Se você coloca uma tela diante de uma criança pequena, você limita suas habilidades motoras, sua tendência a se expandir, sua capacidade de concentração. Não há muitas certezas em tudo isso. Teremos as respostas daqui a 15 anos, quando essas crianças forem adultas. Mas queremos correr o risco?”

Parece que nós, aqui no Brasil, decidimos correr esse risco. Criar, imaginar, produzir arte sempre foi a forma que nós humanos nos encontrávamos. Sempre foi nosso método de explorar nossos pensamentos mais secretos e forma de expressão. Seja através da tinta, da caneta, da argila, dos papéis e recortes ou de qualquer outra ferramenta manual presente na vida de uma criança como eu, criada nos anos 80 e 90. Nenhum desses estímulos me impediu de ser uma pessoa tecnológica ou como diz meus alunos: “Antenada”.

E de todas as formas possíveis de nos expressarmos, acredito, como mãe, educadora, artista e uma mulher com esperança de um mundo mais humano pra nossos filhos, que todas as expressões são válidas, os estímulos compreendidos e a assimilação necessária. Não acredito em uma via de mão única. A vida sempre será uma eterna aula de física – Ação e reação. Portanto podemos agir de forma plural e termos muitos frutos a serem colhidos. É o digital com a forma analógica, A Arte e a Ciência, O urbano e o rural, a terra e o mar. A escola e a família. A vida e seus pares. Sempre juntos! Nunca separados.

 

Fontes:

Acessa

Telesintese

BBC

Colégio Servita Nossa Senhora Rainha dos Corações